quarta-feira, 8 de maio de 2019

Teste - Citroën C4 Cactus

Passei duas semanas com a nova aposta - e uma das mais importantes em sua história recente no Brasil - da Citroën, o C4 Cactus. Será que vale a pena a compra?



Estive com a versão THP Shine, que tem o valor sugerido de R$ 102.790. A versão básica parte de R$ 69.990 - mas claro que muitos dos mimos aqui não estarão presentes. Ah, tem a versão PCD também.

POR FORA

A primeira impressão que você tem é o visual do carro. O C4 com seu tom bicolor (lembra daqueles carros antigos do seu avô que eram assim? Bem, parece que isso está voltando). Ao todo, são possíveis 14 combinações de cores, alternando o teto com o corpo do carro. A combinação que ficou comigo foi a cor "de divulgação", que aparece em todos os materiais promocionais, que é EMERAUDE BLUE/BLANC BANQUISE (isso mesmo).



Mas é possível encontrar outras por aí. Ainda que o Cactus não seja extremamente popular quando andei pelas ruas de São Paulo, próximo à PSA (escritório da Peugeot / Citroën), encontrei vários estacionados. E fiquei chocado ao ver que a maioria era...prata. Brasileiro é um povo meio medroso, né? Aquele velho medo de "perder dinheiro na revenda" por ser uma cor muito diferente do preto / prata.

De qualquer forma, a cor realmente chamou a atenção. Não raro, peguei pessoas olhando para o carro e, em um caso mais surpreendente ainda, fui abordado por meninas na porta de um prédio (que deviam estar esperando um Uber ou coisa assim) quando estava saindo para pegar o carro estacionado na rua. Quando falei que aquele carro era meu, elas disseram que só queriam elogiar mesmo, que tinham achado o carro lindo.

Então é isso. O Cactus por fora chama a atenção ao ser um SUV compacto (a bola da vez e, parece, o novo queridinho do brasileiro - eu gostava tanto de você, hatch) com um certo ar de agressividade. Suas dimensões ligeiramente menores quando comparado a um SUV padrão não o deixam por baixo. Ele parece nervoso - e é também, com aquele motor THP dentro (mas já falo disso adiante).



A rodas aro 17'' diamantadas também chamam a atenção. Detalhes estão espalhados por todo o carro. O C4 Cactus é um produto brasileiro, quase que inteiramente concebido por aqui mesmo, a começar pelo design exterior.

POR DENTRO

Quando você entra no carro, a sensação continua muito boa. A impressão de bom acabamento é notória. Os bancos em couro com costura aparente encaixam perfeitamente com o design interior. Há um bom espaço interno - não é um carro enorme, entenda isso. Aliás, muita gente acha que somente o fato de ser SUV quer dizer que o carro é grande. E não é bem isso. O que caracteriza um SUV, essencialmente, é sua altura - com uma suspensão mais elevada, ele fornece uma experiência de direção um pouco superior aos demais - tecnicamente falando apenas.

O painel de instrumentos é simples e funcional. O volante é um pouco mais reduzido do que a média - mas não chega a ser um iCockpit como da irmã Peugeot - e também tem um acabamento premium. Confesso que achei ele um pouco "duro" em alguns momentos. Senti falta daqueles volantes com alguma espuma mínima, que você pode apertar quando o trânsito está no seu auge.



O sistema de entretenimento funciona bem. Uma tela com ótima resolução (não entrarei nos detalhes de especificação). Achei o layout para rádio um pouco confuso, entre as guias para "memória",  "banda", "frequência". 

O sistema também oferece os essenciais Android Auto e CarPlay, respectivamente do Google e Apple. E aí vem um erro crasso de design dos caras: a entrada USB do sistema fica na própria tela, basicamente no meio do painel. Isso quer dizer que, como ambos os sistemas somente funcionam com cabo, você precisa ficar com um cabo esticado no meio do carro praticamente o tempo todo. Sério que ninguém de design pensou nisso? E, pelo jeito, o problema parece estar em toda a família, já que estou agora com um Peugeot 2008 e, de novo, lá está o USB na tela. E pensar que o Fiesta 2014 da família que temos aqui tem o USB escondido próximo ao freio de mão...

Mas o ser humano se adapta. E com o tempo você esquece que tem um cabo ali, juro.

 O ar condicionado é digital, mas não é bizone. Funciona muito bem, apesar de que achei as saídas de ar um pouco confusas. O fechamento delas não é padrão, por meio de um botão que deslizamos ao lado. Fiquei na dúvida quando a saída estava fechada ou indo para um determinado lado. Mas isso também é adaptável.

Sou um fã de "porta-trecos". Bem, O Cactus não é uma referência nessa área. No painel central há um pequeno compartimento para dois copos, algumas coisinhas e só. Entre os bancos, não há um suporte para o braço (justo agora que estava acostumando!). Há um dispenser central, não muito grande, para guardar tranqueiras também. Há, claro, os dois porta trecos nas laterais das portas e é basicamente isso. Confesso que até hoje sinto falta daquele maravilhoso porta-trecos que o VW Polo oferecia embaixo do banco. Que sacada.




O volante multifuncional funciona bem. É bem parecido com o sistema da Peugeot, com rodinhas que deslizam para diferentes funções. A Citroën parece preocupada com ajustes de volume, no entanto. Há três opções para controlar o volume no carro: 1) no próprio volante (e, apertando os dois botões ao mesmo tempo, ele muta); 2) na tela touch (por meio de um símbolo + e -); e 3) com uma tradicional bolinha que lembra o som que tinha no Fusca dos meus pais. E, talvez seja fruto da minha idade, ou coisa da geração, eu até usava o sistema do volante, mas o que eu mais gostava era girar a bolinha no painel. :-)

O C4 Cactus herda algumas tecnologias que começaram a chegar por aí e já estão presentes no primo (irmão? Tio?) mais velho, o Peugeot 5008. Isso inclui o aviso de mudança de faixa e o sensor de proximidade. Achei os dois legais, mas um pouco irritantes em alguns momentos (eles podem ser desabilitados nas configurações do carro).



O primeiro, basicamente, te avisa se você começa a mudar de faixa lenta repentinamente. Talvez seja mais útil na estrada, em um momento de cansaço. Na cidade, quando você faz todo tipo de manobra por N razões, ele exagera um pouco. Por exemplo, tive que passar pela contramão em uma rua aqui perto pq a faixa estava bloqueada por um caminhão. Lá vai ele começa a apitar.

O sensor de proximidade é mais ou menos a mesma coisa. A ideia, de novo perfeita para estrada, é que ele perceba quando há uma parada repentina a sua frente. Se você não notar a tempo, o carro freia por você. Claro que há situações em que nem o sistema conseguiria evitar, mas mesmo assim, sensacional, não? Bom, no uso diário da cidade, ele incomoda um pouco de vez em quando. O anda-para de São Paulo é constante e, muitas vezes, parece que o trânsito andou, mas não andou de verdade. E, quando o sistema percebe que o carro a frente está próximo, a tela touch corta a imagem e exibe um aviso de segurança.

Vidros automáticos, up and down, mas algo incomoda: não há como fechar os vidros pela chave quando você já saiu do carro. Sério:? Em 2019 você ainda precisa entrar novamente no carro, liga-lo e subir os vidros.

Falando em chave, isso é bem legal: ela tem aqueles sensores de proximidade também e você não precisa nem apertar nada quando está chegando no carro. Basta chegar com a chave no bolso e o carro abre segundos antes de você por a mão na porta. Isso é bastante útil especialmente se você está com as mãos ocupadas. O mesmo (quase) vale para sair: se você passar a mão pela maçaneta na hora de sair do carro, ele tranca automaticamente. Achei a função meio "boba" e usei pouco, mas está registrada. Ah, a partida é no botão. Nada a comentar aqui, só pra registro também.



O porta-malas tem capacidade para 320 litros, o que não é muita coisa. Para efeitos de comparação, meu Polo das antigas tinha 300 litros. Há sempre a opção de reclinar bancos, bi partidos e afins, mas não espere um porta-malas enorme. Aliás, não espere isso de muitos SUVs / crossovers compactos.

CONDUZINDO

Na hora de dirigir, o C4 Cactus mostra a que veio. O motorzinho THP embarcado nele é sensacional. Também não entrarei em detalhes aqui, basta saberem que o motor é turbo e fruto de uma parceria entre BMW e PSA. Pra quem gosta de dirigir e tem o pé pesado, o bichinho anda.

Como em outros carros da família, há a opção "eco" e "S", sendo a primeira uma tocada mais suave, esticando menos as marchas, e a segunda mais esportiva. O câmbio é automático de seis marchas, e não notei nenhum engasgo enquanto estive com ele. Sem dúvida é o melhor câmbio automático que já vi na PSA.

Outro ponto que gostei bastante: para os amantes do semi automático (ok, eu sou um deles), não há o "paddle shift" (borboletas atrás do volante - aliás, infelizmente acho que isso está morrendo), mas há a opção de usar o "pra cima / pra baixo" no próprio câmbio. Mas o Cactus corrige algo que muitos fazem errado: pra cima é pra reduzir a marcha, e pra baixo é pra aumentar a marcha. Isso é clássico, combina com a própria inércia do corpo e deixa a tocada muito mais gostosa. Estive com o Toyota Yaris há algum tempo e ele segue padrão (errado) de, pra cima, marcha aumenta. Como é frustrante você tentar levar o carro desse jeito!



A direção é ridiculamente macia; freios são incríveis. As rodas aro 17" ajudam a dar mais estabilidade nas curvas, mesmo em alta velocidade. O Cactus traz outros detalhes interessantes: faróis que ligam e desligam automaticamente, limpadores de para-brisa idem, aquela seta temporária que você dá quando vai mudar de faixa, sem precisar acionar a seta inteiramente). O carro é muito macio na tocada também. Quem ficou no banco de trás não reclamou de falta de espaço e, nas lombadas e buracos que infelizmente fazem parte do nosso dia dia, ele foi bem. O espelhinho interno, olha só, tem uma tecnologia que detecta luzes muito ofuscantes e se ajusta automaticamente. "Tipo uma lente Transitions",  me falaram. Ou seja, acabou a era de ficar fazendo aquele ajuste no espelho quando o sujeito de trás chega com farol alto na sua cara. Tem câmera de ré, mas não tem o sensor de estacionamento que apita (você acostuma, mas senti um pouco de falta no começo).

O VEREDITO

O Citroën C4 Cactus se mostrou um carro bastante versátil, com um design bem diferente do que encontra por aí (a não ser que você lamentavelmente escolha um prata), um pacote de acessórios e opcionais bem completo. Não tem um espaço interno tão grande assim, o que pesa um pouco contra se isso é importante pra você. 

Talvez a versão shine por mais de 100k possa ser um pouco demais por tudo que o carro oferece, mas definitivamente ele se torna bastante competitivo em versões inferiores - que, vamos combinar, continuam oferecendo o que realmente importa - embora eu admita que voltar para os motores convencionais após experimentar o THP é...triste. De qualquer forma, o C4 Cactus marca uma nova fase para a centenária (agora, em 2019) Citroën. E, se isso é um gostinho do que ela trará nos próximos 100 anos, eu gostei.





terça-feira, 24 de maio de 2016

Review: If I Can Dream - Elvis Presley with Royal Philharmonic Orchestra




Veio como surpresa a notícia de que havia, na Inglaterra, um álbum de Elvis Presley no topo das paradas da Billboard. Sim, amigos, eu confesso que estava sem acompanhar notícias musicais do Rei do Rock há algum tempo. De fato, eu nem sabia desse álbum. E que grata surpresa quando o ouvi.

Não é de hoje que a gravadora de Elvis e produtores por aí tentam revisitar a música de Presley com novos arranjos. Na verdade, isso foi feito pela primeira vez há muito tempo. O LP Guitar Men, de 1980, foi uma primeira tentativa para isso, ainda feito pelo produtor Felton Jarvis, que já era o produtor da maioria dos discos de Elvis nos anos 1970. O LP trazia arranjos um pouco mais modernos (lembre-se que estamos falando de 1980) para diversas músicas de Elvis, a maioria gravadas originalmente na segunda metade da década de 1960 (com destaque para as sessões de Memphis em 1969).

Muitos anos se passaram até que algo no mesmo sentido fosse feito em grande escala novamente. Mas foi um sucesso enorme. A versão remixada de A Little Less Conversation, uma faixa lado B de um dos filmes de Presley, estourou nas paradas e levou Presley ao topo novamente, graças a um empurrão de uma campanha da Nike para a Copa do Mundo de 2002. Mais alguns anos se passaram, e a BMG resolveu replicar a fórmula com mais um remix, desta vez para Rubberneckin', outra música menos conhecida das sessões de Memphis em 1969. O arranjo foi interessante, mas o sucesso não chegou nem perto do remix anterior.

Em 2008, algo diferente foi feito. Um disco de duetos de Elvis com algumas de suas canções natalinas. Elvis Christmas Duets foi o primeiro disco do cantor em dueto, todos com cantoras do universo country. Os instrumentos foram todos regravados do zero, mas seguindo ao máximo os arranjos originais. Diferente de um remix, o resultado final foi um som mais atualizado, com pianos, guitarras, violões, baixos e afins refeitos, quase clonados, e na medida do possível mantendo os corais intactos. O resultado foi bastante interessante, na minha opinião - e você pode ver meu review aqui.

O próximo capítulo destas intervenções foi o disco baseado no show Viva Elvis de Las Vegas, um espetáculo fortemente inspirado no Love!, dos Beatles. Nesse caso, o CD traz faixas selecionadas do show que, diferente do CD de Natal citado anteriormente, foram inteiramente refeitas. "Elvis Presley com um som do século XXI", diz o álbum. Acordes, arranjos, sequências, tudo ali foi inteiramente mexido. Outtakes são misturados com trechos de ensaios, músicas diferentes são mescladas, enfim, é um experimento bastante diferente.

Ao longo dos anos, outras versões de canções surgiram por aí, como este remix de I Got A Feelin' in My Body - que eu achei que ficou bem ruim, ou o grandioso arranjo de "Always On My Mind", que supera, de longe, o simplório do original (aliás, este foi o primeiro disco do Elvis que comprei, em 1997). E o que dizer do bootleg Way Down Remixes?

Eis que, então, chegamos ao disco citado no título desse post. Diz Priscilla Presley, no encarte do CD, que Elvis sempre quis gravar com uma orquestra completa, mas limitações financeira e de espaço no palco não permitiram que isso fosse possível. Com If I Can Dream - Elvis Presley with Royal Philharmonic Orchestra, isso enfim acontece.

E, desta vez, mais do que em todas as empreitadas anteriores, eles acertaram em cheio.

Há alguns motivos para isso. Em primeiro lugar, a própria orquestra. Gravada nos estúdios da Abbey Road, o som é o mais puro possível. Alguns instrumentos dos takes originais permanecem, outros são refeitos no mesmo estilo, mas acima de tudo, os arranjos estão belíssimos e se encaixam muito bem com a voz de Presley.

Segundo, pela escolha de músicas. A seleção fugiu bastante do óbvio, com algumas exceções (como a já cansada Love Me Tender, que pela enésima vez recebe novos arranjos), mas trazendo pérolas pouco conhecidas pelo grande público, como There's Always Me e a soberba The Grass Won't Pay No Mind. Não é exagero dizer que algumas versões desse disco superam as gravadas originalmente.

Vamos, então, a uma análise faixa a faixa.

Burning Love - Também não é a primeira vez que experimentam com esse clássico do rock e último grande hit de Elvis em vida. Aqui, a grande surpresa vai para o início da faixa. A primeira vez que ouvi foi um grande susto. Há um enorme arranjo de cordas que sobe e vai preparando o tom para a entrada da guitarra que dá o mood para o começo das letras. Incrível, simples, grandioso, Burning Love é uma espetacular forma de começar o álbum;

It's Now Or Never - Aqui começo a falar da ótima seleção de músicas. It's Now Or Never é um clássico de Elvis do álbum Elvis Is Back! - provavelmente um dos melhores discos gravados pelo artista na carreira - que jamais foi mexido. Apesar de belíssima, convenhamos que se trata de uma música de 1960. Muita coisa melhorou de lá pra cá musicalmente falando. Sendo assim, uma versão orquestrada dessa música traz um frescor inimaginável. A doce e romântica voz de Elvis pós-exército se junta com uma orquestra contemporânea, atual e rica em instrumentos. Absolutamente incrível.

Love Me Tender - Aqui temos, ao meu ver, a primeira (e uma das maiores) decepção do disco. É complicado mexer nesse clássico - e já o fizeram mais vezes do que deviam. Love Me Tender, em seu arranjo original de 1956, é uma música extremamente simples e genial, combinando praticamente Elvis e um violão somente. A orquestra aqui não agregou e não combinou com a voz "antiga" de 1956. Outro ponto que me incomoda é a insistência desses artistas de trabalharem com a versão original da música. Seria muito mais interessante experimentar com a Love Me Tender de 1968, que traz mudanças de tom em cada verso, dando um ar muito mais grandioso e moderno para a música. Pena.

Fever - Rapidamente, o pessoal da orquestra se redime com essa maravilha. Fever é brilhante, mas aqui eles beberam da água de Michael Bublé, que gravou Fever com ares de big band há alguns anos e já deixou a música como sua marca registrada. Pois então, por que não trazer o próprio Bublé para cantar com Elvis? Foi o que fizeram, em um arranjo sublime - destaque para o início melancólico da faixa -, singular e que mistura brilhantemente o clássico de Presley com o contemporâneo de Bublé.

Bridge Over Troubled Water - Essa não é minha preferida do disco, mas também está belíssima. Ponto positivo é que descartaram a voz de Elvis do master da canção para usar um take das sessões originais de Nashville. A voz de Elvis está mais frágil e sensível aqui. A razão para uma euforia menor aqui é simples: esta é uma música que  tem um arranjo original com orquestras muito bem feito. Seria difícil superá-lo de qualquer maneira.

And The Grass Won't Pay No Mind - Mais um golaço da Royal. Uma das mais lindas canções de amor gravadas por Elvis, esse clássico de Neil Diamond quase não foi gravado por Elvis em 1969. Para nossa alegria, ele decidiu por fazê-la. Nunca fui fã do arranjo original, que exagera nas backing vocals, que quase cobrem a voz de Elvis. Quase sempre preferi as versões alternates, que são mais cruas. Aqui, enfim, essa linda música recebe o pano de fundo que tanto merece. Emocionante.

You've Lost That Lovin' Feelin' - Sentimentos mistos aqui. Primeiro, algo inédito: experimentar com uma música de Elvis gravada ao vivo em Las Vegas. O arranjo original é bem bonito. Tentaram superá-lo aqui, mas não sei ao certo se o conseguiram de fato. De qualquer forma, não compromete em nada o balanço do álbum. A única decepção fica para as novas backing vocals. Como assim tiraram as Sweet Inspirations??? Achei isso meio difícil de se acostumar.

There's Always Me - Lendo o encarte do livro, percebe-se que o maestro que conduziu a orquestra devia ser fã desse lado b de uma época onde Elvis já estava começando a ser esquecido pelo grande público nos anos 1960. Parte do nebuloso disco Something for Everybody, essa é mais uma entre tantas e tantas baladas de Elvis no decorrer dos anos 1960. É brilhante ver um som tão oxigenado em uma música tão doce.

Can't Help Falling In Love - Essa é minha música favorita de Elvis. Assim como Love Me Tender, qualquer tentativa de mexer com ela raramente dá certo. Viva Elvis tentou. Aqui também tentaram, e o resultado é satisfatório. Quem sabe também poderiam ter pensado em usar a versão do Comeback Special de 1968, como pensei para Love Me Tender.

In The Ghetto - De novo, trocaram as backing vocals. Achei esquisito. Mas o arranjo está belíssimo.

How Great Thou Art - Esse hino gospel de 1966 rendeu um Grammy a Elvis. Sua voz está única nesta faixa. Mais grave, arrastada, diferente de tudo que gravou depois ou antes. O arranjo da época era extremamente minimalista, com um sutil violino. Aqui, a Royal dá o peso que ela sempre pediu, resultando em uma versão absolutamente primorosa.

Steamroller Blues - Uma escolha bastante inesperada. Este blue foi executado por Elvis apenas em shows, normalmente com arranjos simples, como se espera de um blues, e maravilhosa participação das Sweet Inspirations, seu coral feminino, no verso final. Infelizmente, mais uma vez a versão atual retira as vozes femininas originais. O resultado ainda é positivo, mas em geral é a faixa mais fraca do disco.

An American Trilogy - A essência do arranjo original foi mantida, sem grandes alterações, apenas uma repaginada para ganhar toques mais atuais. A decepção, no entanto, fica para o trecho mais intimista da música, que continha originalmente uma flauta doce sensacional. Isso foi removido por algo como um trompete ou instrumento parecido. Perdeu o charme, na minha opinião. Outro ponto é que editaram o final da música, que nunca foi gravada em estúdio e sempre ao vivo, para terminar sem aplausos. Ficou estranho.

If I Can Dream - O que dizer deste sucesso tão propalado por aí de Elvis em 1968? Seu arranjo original já é bastante grandioso e especial, o que torna uma tentativa de torná-lo melhor uma missão bastante difícil. O resultado final é bastante interessante. 

Conclusão - Se você não teve paciência de ler a análise faixa a faixa, comece direto daqui. O saldo final é altamente positivo. Este disco é uma excelente dica de presente para qualquer amante de boa música. Uma maneira mais contemporânea e ao mesmo tempo clássica de ouvir Elvis. Eu já gostaria que surgisse um volume 2, inclusive tenho sugestões. Que tal reinventar Fools Rush In, por exemplo, ou pegar experimentos do Rei com jazz nos anos 1960, como a obscura City by Night. Seria maravilhoso.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Kentucky Bourbon Trail - a mágica experiência do Bourbon

So many bourbons, so little time

Quanto eu tinha mais ou menos uns 13 anos, no Shopping Market Place, em São Paulo, acompanhado de dois dos meus melhores amigos (até hoje), tive minha primeira experiência com álcool na vida. Talvez não tenha sido a primeira vez que coloquei uma bebida alcóolica na vida, mas aquele momento, sem os meus pais presentes, me marcou. A bebida em questão foi uma cerveja - que, diga-se, jamais deveria ter sido vendida para nós pela loja - daquelas edições com bandeiras de clube. Curiosamente, não me lembro qual era o time em questão. Mas foi uma grande aventura aquele breve momento com as latinhas de cerveja, subvertendo a sociedade, desafiando o mundo e voltando pra casa após os pais nos buscarem.

Esse pequeno nariz de cera foi apenas para falar do tema: álcool. A cerveja foi uma forma de se iniciar, o vinho também teve seu espaço, os drinks ganharam destaque com mojitos e afins e, pouco depois, comecei a conhecer o mundo do Bourbon. Primeiro Jim Beam, depois Wild Turkey, MAker's Mark e por aí vai. Algumas regras básicas sobre bourbon:

1 - Todo bourbon é whisky, mas nem todo whisky é bourbon: para que um whisky receba a denominação de 'bourbon', ele tem que obrigatoriamente ser feito nos Estados Unidos (em qualquer estado de lá), e ter pelo menos 51% milho. Sim, há outras etapas, mas essas duas são as essenciais.

2 - Jack Daniel's não é bourbon: dê um google em anúncios de Jack e você vai eventualmente cair em um que fala algo do tipo "it's not bourbon, it's not scotch. It's Jack". Resumidamente também, o Jack Daniel's não é bourbon por um simples motivo: ele não segue as regrinhas que citei no primeiro item. Pq, após o líquido ter sido preparado, ele passa por um processo de filtragem em carvões de maple tree, uma árvore comum por lá. O esquema é gota por gota, caindo em imensos tanques de carvão, para depois irem pro barril. Por ter adicionado esse processo, o Jack não pode, pelas regras, ser chamado de bourbon. Logo, eles se caracterizam como um "Tennessee Whiskey" e pronto.

Como os americanos são, no perdão da palavra, foda na questão de valorizar suas origens e converter isso em bugigangas a serem vendidas em lojinhas, eles criaram por lá um circuito que passa pelas principais distilarias de bourbon. É esse o tal do Kentucky Bourbon Trail, que você pode saber mais aqui: http://kybourbontrail.com/. Existe até um passaporte para essa coisa, tipo um passaporte mesmo, em que você carimba todas as 8 destilarias que passou para ganhar uma camiseta.

Eu me pergunto se fariam algo similar na Serra Gaúcha na rota dos vinhos

Na minha passagem pela região, não consegui ir em todas. Além do Jack (que, como já foi explicado, não é bourbon - e nem fica no Kentucky), passei por três destilarias: Jim Beam (Clermon), Evan Williams (Louisville) e Maker's Mark (Loretto). Pq não fui nas outras? Pq o propósito da viagem era chegar até Nashville saindo de Ann Arbor (Detroit), não fazer o bourbon trail inteiro. Ou seja, otimizamos o que mais ou menos estava na rota e, quem sabe no futuro, fazemos as que faltam para levar nosso brinde.

Jim Beam e Evan Williams permitem que você compre seus tickets online e agende o horário da visita. No caso do Evan Williams, estava vazio e o tour foi tranquilo. No caso do Jim Beam, a coisa é maior e isso é altamente recomendado (claro, tudo pode variar muito conforme o dia da semana e época do ano. No meu caso, estive lá em setembro de 2014 em um dia comum da semana).

Maker's Mark e Jack Daniel's não exigem horário marcado. É chegar lá e pegar o próximo grupo. O Jack, aliás, nem cobra pelo tour básico (os outros cobram em média 10 dólares). Há, claro, o tour premium do Jack, que é mais longo detalhado e inclui degustação de três bebidas, por um preço também de 10 ou 12 dólares ( eu fiz esse e super recomendo).

Não vou entrar em detalhes aqui sobre o que tem em cada um deles, acho que é mais legal cada um descobrir por conta própria (leia-se 'estou sem saco de digitar tudo isso'). Para amantes de bourbon (eu sou um apreciador nível 3, mas não chegou a ser um amante), a viagem é o máximo. As histórias de como as bebidas foram criadas, o marketing precursor da época, as dificuldades no período da Lei Seca nos EUA, tudo isso vale para qualquer um, na verdade. No Jack Daniel (isso mesmo, sem o apóstrofe), você passa pela sala original em que o próprio Jack fazia negócios e vê inclusive o infame cofre que ele chutou e, a longo prazo, provocou sua estúpida e prematura morte. Aliás, na própria cidade do Jack, Lynchburg, não é permitido beber. Uma contradição absurda, mas eu mesmo levei uma 'carcada' de um vendedor apenas pq estava com um copinho de degustação andando pela sede.

E, claro, as lojinhas. Ah, as lojinhas. Em todos os casos, prepare-se para ver tudo que quiser enrolado com bourbon. Barris usados, velas, pen drives, camisetas, mel, chaveiros, bonés, charutos, etc etc. O céu é o limite. A loja do Evan Williams, que foi a primeira destilaria que passamos, é um barraco perto do que vimos no Jim Beam. E a do Jim Beam é uma banca de camelô se comparada com a do Jack Daniel's, que é praticamente a cidade toda (não se empolgue, é um quarteirão) de lojas.

Apenas uma entre as várias lojinhas de Jack Daniel's
Como falei, nossa viagem não era especificamente para fazer o KBT inteiramente, então não posso falar pelas demais destilarias. Ainda tive a oportunidade de ganhar um Wild Turkey Kentucky Spirit de uma amiga que trabalha para eles por lá, mas não os visitei (ficam em Lexington). Mas, a não ser que você seja um fã absolutamente hardcore de bourbon (e queira ganhar a camiseta com o passaporte 100% carimbado), ir em duas ou três já ajuda bem. Depois da segunda, você já começa a achar que está vendo mais do mesmo, mais ou menos como quando se visita vinícolas na sequência...

Isso não quer dizer, claro, que eu não pretenda voltar pra lá algum dia. Afinal, como diz o Jim Beam, "come as friend, leave as family". Logo, acho que tudo bem eu bater na porta deles um dia de novo!



sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Trinta dias sem beber

Este mês, inspirado em uma campanha supostamente da Austrália chamada "Dry July", resolvi passar agosto inteiro a seco. Sem álcool de qualquer espécie. Afinal, agosto já é um mês meio parado - sem feriados, sem muitos amigos celebrando aniversários. Não deve ser difícil, certo?

Aqui estou, no dia 15 de agosto, sofrendo como nunca. Percebe-se então que não é da bebedeira que se sente falta - aliás, é raro pra mim beber até cair. Sente-se falta da bebida como instrumento de convivência social. Como lubrificante do dia. Hoje, precisamente, sexta-feira, o pub aqui do outro lado da rua está mais atrativo do que nunca. Um dia, ou melhor, uma semana de muito stress, muito trabalho, cansaço, brigas, negociações de todos os tipos. Uma cerveja gelada cairía como um torpor para a alma. Talvez duas, quem sabe três. Mas dificilmente mais que isso.

É, este mês está sendo mais longo do que eu jamais imaginei.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Eu já desisti de São Paulo


As pessoas adoram dizer por aí que São Paulo é uma relação de amor e ódio. A Folha, de tempos em tempos, publica pesquisas sobre esse envolvimento do paulistano com a cidade. Não vou ser hipócrita aqui, apenas honesto. Não odeio 100% São Paulo, mas chega muito perto disso. Infelizmente, fiz minha vida nessa cidade que cheira mal e, hoje, fica difícil sair e deixar tudo - e todos - pra trás. Sem demagogia? Se odeio tanto São Paulo, o que ainda faço aqui? Me falta coragem, oportunidade, algo que consiga me mover.  A verdade é essa. Mas isso não esconde o que verdadeiramente sinto. Aliás, muito do que falo aqui vale para o Brasil.

São Paulo é terrível. É uma cidade feia. Como falei, cheira mal. Mas o que mais incomoda em São Paulo não é culpa apenas de São Paulo. É culpa do Brasil também. É a demora com que as coisas acontecem. Tudo aqui leva anos para ficar pronto. Em alguns casos, décadas. Veja o caso do Largo da Batata. Desde que sou criança aquele trecho da cidade está em obras. Agora, parece que vai acabar. Lá se vão vinte anos!

Irrita a falta de planejamento da cidade. Como as coisas parecem acontecer de qualquer jeito. É fato que hoje as autoridades parecem se preocupar um pouco mais com isso. Mas o que já foi feito, dificilmente dá pra remediar. Tome Paraisópolis como exemplo. Uma das maiores favelas da cidade (já ouvi que é a maior) no meio de um bairro de classe média alta. Violência por lá é comum. Coisa do cotidiano. Trânsito, também. Porque, com o aumento da violência, as casas somem e dão lugar a prédios. E, onde antes havia quatro ou cinco carros, há agora 300 veículos. E a falta de planejamento salta à vista. O Morumbi é um típico exemplo de como a cidade não se preparou minimamente para crescer.

A Avenida Giovanni Gronchi está saturada. Há muitos e muitos anos. As ruas paralelas, usadas como vias de escape, também. A Giovanni é rigorosamente é a mesma desde que foi construída. Na ocasião, meados dos anos 1950, o Morumbi era tão longe que NINGUÉM da Prefeitura pensou, em algum momento, que aquele bairro poderia um dia se tornar populoso. E isso irrita demais. Em Buenos Aires, na nossa vizinha Argentina, isso não acontece. As avenidas são largas. Oito, nove, 10 faixas de cada lado da avenida. Qual a dificuldade para que São Paulo possa fazer o mesmo? Sério, é tão complicado assim? Somos menos inteligentes que os argentinos (e não estou colocando aqui nenhuma rivalidade, é apenas uma pergunta retórica)?

Talvez o maior símbolo da falta de planejamento de uma cidade, no maior sentido da palavra, sejam os postes. Parte do nosso dia dia, das nossas vistas, eles são ignorados pela maioria das pessoas. Mas estão ali, como troféus do descaso, como lembranças incessantes de que, nesta cidade, pouco ou quase nada se faz - ou fez - para prever o futuro.

Os postes de São Paulo não são postes comuns. Como diz um amigo meu, são verdadeiras usinas elétricas. Dezenas de fios emaranhados, jogados, se entrelaçam correndo pelas vias, ligados em casas, prédios, favelas, misturados sobre árvores que ficam em calçadas esburacadas, apertadas, com camelôs, lixo na rua e cidadãos que não respeitam o trânsito.

Aqueles postes fazem mais do que deixar a cidade feia, mais vulnerável a quedas de luz e acidentes com pipas ou afins. Eles fazem a gente lembrar, todo dia, em nosso caminho para o trabalho, que esta cidade provavelmente nunca terá jeito. O prefeito Haddad falou, este ano, que quer remover a fiação da cidade. Isso vai custar milhões. É louvável que o prefeito fale isso, e eu torço fervorosamente para que ele consiga realizar a promessa. Mas não conseguirá. Porque em São Paulo (e no Brasil), tudo demora. E quatro anos (ou oito) é muito pouco para ele resolver esse problema. Até porque há outros problemas, muito maiores e mais significantes do que enterrar fios de poste.

São Paulo é um poço sem fim de problemas. E parece que todos eles emperram em uma máquina velha, sem manutenção, que é o sistema. O sistema tributário. Com preços ridículos, mescla de impostos abusivos e lucros exagerados. O sistema de esgoto. Com rios que fedem e envergonham o paulistano e bairros ricos que despejam seus dejetos em qualquer lugar. O sistema de trânsito, que tem obras superfaturadas que já nascem velhas e motociclistas que não sabem o que é respeito. O sistema de segurança, em que 37 estupros por dia passam diante dos olhos em notícias no elevador e quase não causam espanto. Ou que ir a um restaurante é um risco de assalto duplo - seja pela casa, com seus preços que estão entre os mais altos do mundo -, ou pelos bandidos, que fazem arrastão livremente.

Eu já desisti de São Paulo. Claro, ainda faço minha parte. Ainda atravesso na faixa, aproveito a cidade, jogo  o lixo no local correto e tento, na medida do cidadão normal, cooperar com o trânsito. E louvo aqueles que fazem o bem pela cidade. Admiro, quase invejo. Mas minha desesperança é tanta, tamanha, que parece não ter volta. Penso em ter filhos, sim, mas tenho medo de criar alguém que irá conhecer esse local mundano, sujo, que infelizmente é o centro de negócios mais importante do País. Maldita São Paulo.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Teste: Asha 311

Prólogo: Antes de dar início ao texto-teste propriamente dito, uma introdução que se faz necessária: durante os último oito anos da minha vida, uma obrigação ética me impossibilitou de fazer qualquer tipo de testes de celulares – trabalhando para fabricantes, seria impossível manter-me imparcial. Nesse meio tempo, os blogs de tecnologia nasceram e se multiplicaram, enquanto eu vesti camisas de marcas – por um tempo, a Sony Ericsson, por mais tempo, a Nokia. Este é, de fato, o primeiro teste de um celular que farei sem vínculo com nenhuma empresa – pra quem não sabe, já não trabalho para nenhuma fabricante de celulares (e sinto falta, admito). Isso dito, vamos ao teste de fato. 

Nokia Asha 311: isso é o que restou do N9 

Asha 311, o pequeno valente da Nokia

Pedi para testar um produto da Nokia à LVBA, agência de comunicação da marca. E me enviaram o Nokia Asha 311. Um produto que vive naquela categoria limbo: está entre os mais vendidos por ser mais popular, mas nenhum blog de tecnologia se interessa. Afinal, todo mundo quer saber dos Galaxies, Lumias e iPhones, mas o que há de interessante para falar de um telefone intermediário? Muita coisa, na verdade.

Não levou nem 20 minutos para chegar à primeira conclusão do Asha 311: fãs do N9 (como eu), uni-vos: o MeeGo ainda vive. Não, não estou falando de espólios na forma de Jolla, Tizen e afins, mas de algo de dentro da própria Nokia mesmo. De fato, muito da usabilidade do N9 pode ser vista nesta linha de celulares da Nokia. Mas já falarei da interface. Começarei pelo design externo. 

Design
Asha 311 de perfil...
O Asha 311 tem uma ótima pegada. Pequeno, compacto, é um oásis no meio desses telefones com telas cada vez maiores - soa quase nostálgico, se me permitem, ter um celular tão pequeno nos dias atuais. Não que eu seja contra – aliás, eu não compactuo com essa tendência de telas enormes, se me perguntarem. Quebram o tempo todo. Com tela de 3’’, o 311 é um celulares “das antigas” – dá pra levar no bolso sem chamar a atenção. O acabamento, como era de se esperar, é um pouco mais simples. Um plástico brilhante atrás, com uma câmera enorme em tamanho, mas com apenas 3.2 megapixels – confesso que acho pouco para os dias de hoje, mesmo nessa categoria. Na lateral direita, botão de bloqueio da tela e volume – nada de botão físico para a câmera. Na esquerda, nada. Acima, entrada para fone de ouvido 3,5mm, cabo USB no centro e o plug para carregador – ainda o carregador “fininho”, proprietário da Nokia (o telefone também pode ser carregado via USB). Na frente, o Asha traz apenas dois botões, os clássicos verde e vermelho – este último liga e desliga o aparelho. 


...e de costas
Na mão, o Asha 311 tem uma ótima pegada
O Asha 311 é um dos porta-vozes da nova geração dos celulares medianos da Nokia. O velho S40 deu lugar ao “Asha Touch”, um sistema mais moderno e repensado para telefones com tela sensível ao toque. Mas será que ele dá conta do recado? 

Interface 
Ligando o Asha 311, você percebe que, de fato, os S40 cresceram – eu lembro de antigamente, quando você não conseguia usá-los sem chip. Pois o 311 já avisa que o telefone está sem chip e se você quer liga-lo mesmo assim. Muito bom, característica que antigamente só existia em smartphones. Pois é, há alguns meses, a Nokia anunciou que GfK e IDC, duas consultorias famosas, estavam reclassificando os Ashas Touch como smartphones, devido a sua capacidade de baixar apps e tudo mais. Em tese, é apenas uma mudança na nomenclatura, mas isso é suficiente para que o produto seja, de fato, considerado um smartphone? 

Nos primeiros dias de testes, eu diria que não. Com o passar do tempo, percebi que ele faz mais do que um celular comum. Ou seja, está mais para um híbrido. Um smartphone precisa rodar apps simultaneamente e permitir que o usuário alterne entre eles – como fazemos no computador. O 311 não faz isso. Se você tenta sair de um aplicativo aberto, ele pergunta se você quer fechá-lo. Há, sim, alguns aplicativos, especialmente de chat e e-mail, que rodam em segundo plano. Mas isso não é suficiente para chamar esse produto de smartphone. Mas a definição de "smartphone", na verdade, é nebulosa. Eu acredito na que mencionei acima, mas muitas empresas ou especialistas por aí consideram que ter uma loja de aplicativos e funções mais parrudas já bastam para que o produto seja um telefone inteligente. Então, não vamos mexer nesse vespeiro.

O N9 pobrinho
Classificações à parte, o 311 traz um visual bem renovado, como dito. E aqui começam as comparações com o N9. Fã que sou do único MeeGo à venda da Nokia, muitos que podem ler este texto acharão que só estou fazendo essa ligação por questões pessoais. Mas confesso que não.

Quando perguntado sobre o futuro do N9 na ocasião de seu lançamento, o presidente da Nokia Stephen Elop afirmou que "elementos do N9" iriam sobreviver, como o design industrial (que foi parar no Lumia) e a interface. Talvez ele estivesse se referindo a isso. Similaridades? Ambos trazem três telas iniciais e o conceito “swipe”, baseado em gestos – basta deslizar o dedo para direita ou esquerda que você alterna a tela. 

Enquanto no N9 as três telas são de apps abertos, menu clássico e feed + notificações, no 311 a coisa é um pouco diferente. A página de menu clássico está lá, mas a segunda página é exclusiva para o discador de telefone, enquanto a terceira é a mais estranha: é, basicamente, a tela inicial dos velhos Symbian, com relógio, aplicativos e contatos favoritos. Me dá a impressão que a Nokia deixou essa tela momentaneamente - talvez ela suma em versões futuras e dê lugar a uma página de notificações, quando os Ashas estiverem mais evoluídos. Há, ainda, uma tela de bloqueio que mostra as horas e notificações como chamadas perdidas ou mensagens, de novo, no mesmo layout do N9 – deslize-a para a direita ou esquerda e o produto está desbloqueado.

A tela de bloqueio do N9 e do Asha 311
O swipe aplicado no Asha 311...

...e no N9. Quase igual, porém (bem) mais lento no Asha

Recebendo uma chamada no Asha 311

E, por fim, também é possível puxar uma barra de cima pra baixo em qualquer uma das telas iniciais – algo que surgiu no Android e foi adotado pelos últimos Symbians. Nela, você pode ajustar itens como bluetooth e wi-fi, ou ainda ter (mais) atalhos. Curioso, no meu primeiro teste com o 311, ele insistia em me mostrar que havia redes Wi-Fi abertas na área de alcance – te incentivando a se aproveitar da rede vizinha. 

Dia dia
No funcionamento do dia dia, o 311 cumpre praticamente todas as funções que você precisa em um telefone - com um pouco mais. A loja de aplicativos está lá. Tem Foursquare, Twitter e Facebook feitos para o produto. E funcionam direitinho. Há quem considere apps como Instagram essenciais, mas pra mim o mais importante de todos, diria obrigatório, é o WhatsApp. E ele também está disponível na loja. A loja de apps da Nokia para S40, aliás, me surpreendeu pela interface otimizada para telas menores e rapizez na instalação dos apps. Ah sim, Angry Birds também pode ser baixado (mas eu confesso que não aguento mais esse jogo). Como brinde, a Nokia "dá" 40 jogos gratuitos da EA (Electronic Arts), que ficam em um ícone especial. A promoção vale por um tempo determinado, que começa a contar a partir do primeiro acesso à loja. No aparelho que veio pra teste, não foi possível fazer a verificação dos jogos pois o prazo já havia expirado em algum teste anterior.

Se o Asha 311 peca em alguns quesitos quando comparado a smartphones, ele traz a melhor das qualidades que um celular mais simples pode ter: a bateria. Foram vários, vários dias no modo stand by. O aparelho foi mantido ligado no Carnaval inteiro e sobreviveu. Usando o produto em ligações, conexões e tudo mais, ele também não fez nem um pouco feio. Com três dias de uso, a bateria ainda estava de pé. Impressionante - confesso que nem lembrava de uma época em que as baterias dos celulares duravam tanto.

Os mapas da Nokia também estão no 311 - mas use somente em caso de emergência. Sim, estamos falando de um produto de entrada, então tudo deve ser relativizado. Dependendo do caso eu ainda ia preferir consultar o velho Guia de ruas em papel do que o Mapas para S40. Lento, quase irritante. Mas, de novo, se você não tiver outra opção, ele pode ser bem útil para traçar rotas, achar locais e  salvar favoritos.

Redes Sociais
Como falado acima, o produto conta com diversos apps oficiais das principais redes feitos com exclusividade. Quer dizer, o Foursquare, Twitter e Facebook estão lá. O produto também traz um bizarro ícone do Orkut por lá - tudo bem que o telefone é popular, mas o povo ainda acessa isso?

Se quiser utilizar suas redes sociais no Asha 311, opte pelos apps individuais. Porque a Nokia também oferece o Social, um agregador de redes que, supostamente, facilita sua vida mostrando todos seus feeds em apenas um local. Fuja disso. O app é lento e tem interface ruim - aliás, um legado que vem desde os tempos de N8.

Câmera
A câmera do Asha 311, de 3.2 megapixels, é razoável. Também fiz um vídeo, mas não o postarei aqui. Vejam uma foto tirada com o Asha 311 e outra com o Lumia 800, com câmera de 8 megapixels. Lógico que essa comparação é injusta, mas serve apenas para propósitos de referência.

Foto tirada com o Asha 311

Foto tirada com o Lumia 800
Como viram, a foto do Asha 311 não ficou ruim. Mas, se você curte fotografar com um celular, o Asha 311 não é o mais indicado, quem sabe até em sua categoria. Ah, e ele não tem flash.

Teclado
Nos primeiros modelos de Symbian touch (N97, em especial), uma das grandes críticas ao produto ia ao teclado virtual. Pois ele não possuía layouts QWERTY na vertical, apenas o velho T9 em formato digital. A Nokia corrigiu isso com o tempo e o layout do teclado do Asha 311 foi uma grata surpresa. Exige, sim, uma curva de aprendizado. As letras são pequenas e, à primeira vista, você provavelmente pensará que jamais irá conseguir digitar naquilo. Mas consegue. Com um touch capacitivo bem resolvido, o Asha 311 permite uma boa digitação com um relativo conforto.

O teclado do Asha 311 ao lado do N9: assim como o irmão mais velho bastardo, o teclado também pode ser recolhido com um swipe pra baixo

Internet
Navegar na internet no Asha 311 é bom e ruim. O navegador criado para o sistema, que comprime as páginas, deixa o carregamento das páginas mais rápidos. Mas a tela pequena é um problema. Também não existe o clássico pinch to zoom, o que faz qualquer um ficar "pinçando" a tela à toa. Somente após algumas tentativas você aprende que esse gesto não serve pra nada. A conexão Wi-Fi ajuda bastante na rapidez, apesar do produto também contar com conexão 3G. Para quem não curtir o navegador nativo, a loja conta com o Opera Mobile, sempre uma boa alternativa (eu só usava ele no meu velho C7).

Resumo
Na loja oficial da Nokia, o Asha 311 custa R$ 399. No Submarino, achei por 349. Aí muitos blogueiros e jornalistas por aí pensam: "esse produto é lento e limitado". Bem, meus amigos, por R$349 eu digo que está ótimo. Você leva um N9-wanna-be que pode até ser smartphone de vez em quando, com mapas, Wi-Fi, 3G, 40 jogos (pra baixar) de graça, câmera razoável, vídeo, internet (relativamente) rápida, um touch honesto e loja de aplicativos com milhares de itens. Nesta faixa de preço, a briga com os Androids de entrada é dura. Nunca testei um Android de entrada, então fica difícil a comparação. Basta dizer que o 311 foi aprovado no meu.

É isso, espero que tenham gostado! Quem sabe um dia eu volto com um novo telefone - se me empolgar, quem sabe eu abro um blog só pra isso. Tanta gente faz por aí...

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Estación Sur

Não é Buenos Aires, mas quebra o galho
Faz tempo que não escrevo sobre experiência gastronômicas aqui no blog. Então, provavelmente inspirado pelo belo blog Comidas já Comidas, da amiga Luciana Ferraz, resolvi reativar a seção - mas sem o menor propósito de concorrência ou periodicidade, afinal, este blog segue sendo um diário, mal atualizado, mal acessado e sem pretensões algumas de ser mais do que é (essa pretensão até já existiu no passado, mas isso é outra história).

Dada a explicação, hoje fui com amigos ao Estación Sur, um restaurante argentino no bairro do Morumbi. Ele é novo, abriu há menos de seis meses no bairro, mas que já tem, há mais de dez anos, uma unidade no elegante bairro dos Jardins. Apesar de localizado no Morumbi, não se engane. A região não é das melhores. Ele fica em uma rua semi-residencial, com oficinas mecânicas ao lado, uma praça mal conservada na frente e uma via de alto movimento. É daqueles que você olha e pensa "'não vai pegar". Talvez por isso, resolvemos ir logo, antes que feche (maldade).

A chegada já não foi convidativa. Há poucos espaços para estacionar e o manobrista cobra a bagatela de 15 reais para deixar o carro. Lógico, fomos atrás de uma vaga em uma rua próxima. Resolvido o primeiro dilema, fomos ao próximo: havia um vegetariano entre nós. Checamos se serviam ali pratos sem carne. Sim, servem.

Aconchegante, o Estación Sur contrasta com o restante da rua, como citado. Com cara de novo, bem arrumado, pintado e projetado pelo arquiteto Delfor Brion, capricha no interior, que inclui salas com ambientação portenha e itens trazidos de Buenos Aires. Mas, divide o quarteirão com mecânicos e prédios descompromissados. É difícil passar na rua e não estranhar algo tão bonito perto de imóveis velhos. Ao entrar, vê-se que o trabalho de decoração foi bem montado. Há um espaço externo, para fumantes (cadê a fiscalização?), um interno sem ar condicionado e um terceiro salão, climatizado, com uma TV. Em todas as paredes, como era de se esperar, menções à terra de Maradona. Além do próprio, fotos de outras personalidades do país.

Quadro ressaltando a tradicional humidade argentina - foto de Rubia Pria

Escolhemos o salão climatizado. Cardápio à mão, eu já tinha sido avisado: o local não é barato. E não é mesmo. Os pratos individuais saem na faixa de 60, 70 reais. Juro. Felizmente, durante a semana existe a opção de saborear um prato executivo, que varia entre carnes como baby beef, frango e chorizo, além de massas como ravióli e gnocchi. Esses pratos executivos acompanham salada, batata frita (com exceção das massas) e uma sobremesa, e o preço deles gira em torno de 35 reais.

Começando pela salada: fraca. Bem fraca. Alface, tomate e cebola apenas, todos jogados em um pote, sem tempero. Nem comi inteira. Só para cortar a salada, foi um martírio. Para tempero, havia apenas azeite, vinagre e sal. Uma decepção. Eu faria algo (bem) melhor em casa com os mesmos ingredientes.


O prato principal demorou a chegar. Meus amigos pediram truta e gnocchi. Eu, em um restaurante argentino, não poderia pedir algo que não fosse carne. E fui de baby beef. Interessante: quando pedi ao garçom a carne mal passada, ele me mostrou fotos de vários tipos de ponto de carne, para que eu entendesse bem como era a mal passada. Nunca tinha visto isso.

O prato chegou e eu gostei. No que diz respeito ao principal, a carne, estava muito boa, mal passada, tenra, suculenta e com pouca gordura. A batata frita estava boa, mas não era nada demais - me lembrou, na verdade, as batatas fritas congeladas de pacote. Infelizmente, a fome foi tamanha que esqueci de tirar a foto na hora que o prato chegou. Mas antes tarde do que mais tarde. No caso de você estar perguntando o que está na parte de baixo do prato, é meia truta que eu dividi com uma "truta" minha (nossa, essa foi péssima).

Por fim, a sobremesa. Ah, a sobremesa. Como não lembrar das inúmeras viagens a Buenos Aires e dos passeios com helados pelo Puerto Madero? Ou da época de infância, quando, a duras penas, conseguíamos um raro alfajor da Havana? Nossa, como aqueles alfajores eram deliciosos, únicos, raros. Quem mais aqui achou que eles simplesmente perderam a graça com a chegada ao Brasil? De qualquer forma, pedi mesmo um doce de leite na panqueca, que estava bom, muito bom. Não comi o doce de leite todo. Uma pessoa na mesa jura que era o Salamandra, que é um bom doce de leite. Eu não consegui dizer se é ou não, mas certamente não era brasileiro. Valeu a pena.

A brincadeira toda, junto com uma água com gás, saiu 42 reais por pessoa. Caro? Sim. Mas, em uma cidade onde tudo é caro e já estamos achando normal pagar valores absurdos, até que vá lá. Só que, se você for no fim de semana, prepare o bolso, pois os almoços executivos não serão oferecidos. Ah, aceita VR.

Abaixo, mais algumas fotos do restaurante que, certamente, não é o melhor argentino da cidade, mas também não é o pior. E, pra quem gosta de lugares afastados da bagunça, esse é ideal. Adelante (sério, Luís, esse foi seu final de post? Horrível)!

Estación Sur